Especialistas avaliam que não existe alternativa certa ou errada, e que a decisão do que fazer dependerá da prioridade e disponibilidade, inclusive financeira, de cada família. Mandar a criança para a creche é a melhor opção? Veja o que colocar na balança
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Mandar a criança para a creche, contratar uma babá ou cuidar em família? O dilema costuma afligir pais e responsáveis, que precisam conciliar rotina diária, necessidades dos pequenos e orçamento doméstico.
A decisão não é fácil e cada opção traz vantagens diferentes que demandam a definição de prioridades, como explicam especialistas ouvidas pelo g1. (Veja mais abaixo.)
👉 Além disso, nem sempre a creche é uma alternativa, apesar de ser um direito garantido a crianças menores de 4 anos, conforme determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
📉 Em 2022, mais de 1,3 milhão de crianças de 0 a 3 anos não foram aceitas em creches ou escolas por conta da idade – nem todo local tem estrutura para receber bebês que ainda usam fraldas, por exemplo. Outras 700 mil não foram matriculadas por falta de vagas, como mostra um levantamento da ONG Todos Pela Educação.
Isso pode reduzir as opções, mas o impasse permanece: contratar alguém para cuidar da criança com exclusividade ou responsabilizar alguém da família pelo cuidado? Confira a seguir.
Creche x babá x cuidado da família
As etapas não são excludentes ou opostas. Muito pelo contrário, são complementares.
Uma criança que vai para a creche também pode ter uma babá no contraturno, assim como todas precisam de atenção e cuidado da família. É uma relação de complementariedade.
Até por isso, Beatriz Abuchaim defende que não existe uma alternativa errada ou pior. Tudo depende da prioridade e disponibilidade de cada família.
No entanto, ela avalia que existem, sim, aspectos que são privilegiados em uma ou em outra situação.
“A atenção individual e o carinho da família só se recebe em casa. Em contrapartida, a creche oferece profissionais com formação adequada e uma intencionalidade pedagógica que a família não proporciona, enquanto uma babá pode prestar um auxílio individual e direcionado, mas nem sempre especializado”, diz.
Na hora de decidir, é preciso levar em conta a condição financeira, situação e objetivos de cada família para esta fase da vida da criança.
Na creche pública, é preciso gastar apenas com itens de cuidado e alimentação da criança, como leite, fórmula, fraldas e brinquedos. No entanto, o horário de funcionamento é definido pela gerência pública e a família precisa se adequar a ele.
A creche particular pode, eventualmente, oferecer horários mais cômodos para os pais e responsáveis, mas é preciso considerar o investimento em mensalidades.
Para contratar uma babá exclusiva, há o acordo de horários e benefícios, além do salário. No entanto, é preciso pensar que a profissional pode precisar se ausentar do trabalho eventualmente. Então, é necessário certa flexibilidade.
Entre famílias com renda mais baixa, é comum a contratação de serviços de uma espécie de cuidadora comunitária. Em geral, é uma vizinha que cobra mais barato do que uma babá exclusiva e creches privadas e cuida de crianças da vizinhança durante o dia.
E, no caso do cuidado da família, quem se compromete é, na maioria das vezes, a mãe, que abandona ou deixa de buscar um emprego para ficar com o filho. Por um lado, há a certeza de que a criança está sendo cuidada da maneira que a família gostaria. Por outro, a decisão pode comprometer a renda familiar. Em algumas situações, porém, pode até ser o contrário: se o salário não cobrir os gastos com a babá, vale mais a pena abrir mão do emprego e ficar com a criança em casa.
Para Adriana Verdelho, que é psicopedagoga pela Unesp e estuda o efeito do coletivo para o desenvolvimento, a decisão é importante e pode impactar alguns aspectos da vida da criança.
A longo prazo, a criança que frequenta creche pode desenvolver capacidades de socialização e será inserida na sociedade de maneira mais precoce. Mas passar mais tempo em família pode despertar nela maior sensação de segurança e de confiança.
Já a babá pode suprir outras necessidades, mais individuais, da criança, que foi o que a técnica laboratorial Paula Corrêa Pinto considerou quando teve que voltar ao trabalho há pouco mais de um ano e precisou de ajuda para cuidar do filho.
O Lucas é muito novo, tem 2 anos e 3 meses. Ele é o que chamamos de ‘criança da pandemia’, que foi um período que reforçou a necessidade de cuidado e de preservação. Então, eu achei que não fazia sentido expor o meu filho nesse momento.
Paula, que é mãe solo, diz que não é contra a creche, só optou por manter o filho em casa por mais tempo. “Quando ele for maiorzinho, vai para a escolinha. Até lá, me sinto mais segura com ele em casa e com alguém de confiança cuidando dele”. diz.
Abaixo, compare o que cada cenário, em geral, oferece:
Como escolher uma boa creche
A creche não é apenas um local para deixar a criança durante o dia, tampouco é uma escola para bebês — apesar de ser, se certa maneira, as duas coisas.
Mais do que uma instituição de ensino, já que não cobra formalmente os aprendizados, é o lugar para ensinar a criança a conviver e a desenvolver suas capacidades e potências.
Desde a rotina, com hora para brincar, dormir e comer, até o tipo de brincadeira realizada ali, a creche deve ser pensada para estimular o desenvolvimento da criança de maneira segura.
É um ambiente institucional, com rotinas e horários mais estruturados. Então, é uma experiência de uma instituição, que difere da família, onde esses parâmetros são mais soltos.
Por isso, uma boa creche precisa oferecer:
Infraestrutura adaptada;
Atividades pedagógicas intencionais;
Materiais didáticos específicos;
Professores qualificados;
Práticas pedagógicas lúdicas.
Foi com isso em mente que a executiva Mariana Tavares Nalin, 34 anos, matriculou o filho Antônio em uma creche quando ele tinha apenas 11 meses. “E eu colocaria antes”, diz ela, que credita a creche pelo desenvolvimento do filho, hoje com 1 ano e 5 meses.
O Antônio era uma criança praticamente estática, eu notava um certo atraso nele, pouca mobilidade. Agora, é muito autônomo e comunicativo, mais independente. E isso veio de ver os amiguinhos da creche e dos estímulos que recebeu lá.
Mesmo que o filho passe o dia na creche, Mariana tem uma relação dinâmica com a instituição, sempre sabe da rotina dele, recebe fotos relatórios sobre o comportamento e as atividades que ele realiza. Ela ainda tem acesso pelo celular ao sistema de monitoramento das salas, o que permite que veja o filho sempre que quiser.
“A gravidez do Antônio foi planejada. Então, eu e meu marido sempre soubemos que o momento de ele ir para a creche chegaria. E, quando eu precisei voltar ao trabalho, a decisão já estava tomada”, explica.
Ela conta que foi difícil emocionalmente abrir mão do tempo com o filho, mas que não tem dúvidas sobre os benefícios que isso trouxe e vai trazer para ele.
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VÍDEOS DE EDUCAÇÃO
Fonte: G1 Read More