Com o fim do veto a novas faculdades Sírio-Libanês, BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo) e Rede D’Or São Luiz planejam abrir suas próprias graduações entre 2024 e 2027. Com o fim do veto a novas faculdades de medicina no Brasil, após 5 anos de “congelamento” de vagas, grandes hospitais particulares — como Sírio-Libanês (SP), BP (Beneficência Portuguesa de São Paulo) e Rede D’Or São Luiz (RJ) — planejam abrir suas próprias graduações entre 2024 e 2027. Eles aguardam apenas diretrizes do Ministério da Educação (MEC) para darem continuidade aos processos burocráticos.
Na área da saúde, a iniciativa de grandes grupos hospitalares oferecerem graduações não é nova: o Hospital São Camilo (SP), por exemplo, abriu seu curso em 2007. Mas o grande marco aconteceu em 2016, quando o Hospital Israelita Albert Einstein, um dos maiores do país, inaugurou a própria faculdade de medicina.
Diante de um mercado já estabelecido e com a perspectivas de novas vagas, tire abaixo as seguintes dúvidas sobre o tema:
Se eu estudar nas faculdades de grandes hospitais, terei vaga de emprego garantida?
Os hospitais querem abrir faculdades para formar a própria mão de obra?
Só vou ter aulas práticas em ambientes com tecnologia de ponta?
Quais os valores das mensalidades?
Mais faculdades surgindo: boa ou má notícia?
😷’Se eu estudar nas faculdades de grandes hospitais, terei uma vaga de emprego garantida?’
Sala de aula da faculdade ligada ao Hospital Israelita Albert Einstein
Divulgação
Não. Na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, por exemplo, quatro turmas já se formaram desde a criação do curso, em 2016, e nunca houve um favorecimento direto a esses estudantes. Aqueles que se interessaram em fazer residência (especialização) no próprio Einstein tiveram de passar pelo mesmo processo seletivo que os egressos de outras universidades. No ano passado, foram 90 vagas, disputadas por 2,6 mil candidatos do país inteiro.
“A prova aplicada é igual para todos; não existe uma bonificação para quem estudou na nossa faculdade. Assim como recebemos alunos de diversas instituições, os nossos também são aprovados em outras boas universidades, como na Unifesp”, explica Alexandre Holthausen, diretor-superintendente de Ensino do Einstein.
A mesma conduta será adotada pelas faculdades do Sírio, da BP e da Rede D’Or São Luiz.
Raphael Einsfeld, coordenador do curso de medicina do Centro Universitário São Camilo, acrescenta ainda que recém-formados raramente são contratados de imediato pelo próprio hospital.
“Eles normalmente conseguem emprego nas UPAs [Unidade de Pronto Atendimento] ou em hospitais mais periféricos (…), porque redes de grande porte, como a nossa, exigem ao menos uma especialização [que é feita após a conclusão do curso, por períodos de 2 a 5 anos]” .
🩺Os hospitais estão atrás de abrir faculdades para formar a própria mão de obra?
Projeto do prédio em que funcionará a faculdade de medicina do Sírio-Libanês
Divulgação
Segundo representantes dos hospitais citados nesta reportagem, há dificuldade de encontrar profissionais bem-preparados no mercado, mas seria impossível solucionar individualmente esse problema e querer formar todos os membros de uma equipe.
“São milhares de funcionários no corpo clínico do Einstein. Do ponto de vista quantitativo, são 120 médicos formados aqui por ano, que ainda vão fazer residência. É aquela história: ‘uma andorinha só não faz verão'”, diz Holthausen.
“Nosso objetivo é que haja uma reação em cadeia: que os egressos sejam multiplicadores desse tipo de médico que a gente acredita ser o ideal: com currículo sólido, noções de gestão e liderança, e competência socioemocional.”
💻’Só vou ter aulas práticas em ambientes com tecnologia de ponta?’
Não. É claro que estudar em faculdades de grandes grupos hospitalares traz uma proximidade com espaços apropriados para aulas práticas e estágios. Mas não adianta formar um médico que não conheça a realidade brasileira, diz Holthausen, do Einstein.
“O aluno passa por setores de urgência tanto em hospitais públicos [geridos pelo hospital em parceria com a prefeitura] quanto em privados, para ver mix de doenças diferentes, tecnologias diferentes, realidades sociais diferentes. Precisa saber encarar o mercado de trabalho como um todo, desde o início.”
💸Quais os valores das mensalidades?
Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein: R$ 11.025,00 (para 2024)
Centro Universitário São Camilo: R$ 9.644,00
As faculdades que ainda não foram efetivamente abertas pelos grupos hospitalares não divulgaram quanto cobrarão de mensalidade.
✏️Mais faculdades surgindo: boa ou má notícia?
Na área da saúde, com a baixa evasão de alunos nos cursos de medicina e as mensalidades elevadas (que chegam a R$ 12 mil), há um interesse crescente do setor privado em abrir novas vagas.
Vagas em cursos de medicina
Arte/g1
Diante desse aumento significativo de faculdades, há dois desafios:
garantir a qualidade de ensino aos estudantes de medicina;
abrir cursos em regiões com leitos disponíveis para alunos fazerem as aulas práticas e a residência;
tornar a distribuição de profissionais mais igualitária entre os municípios (veja infográfico abaixo).
Houve aumento no número de médicos, mas de forma desigual pelo país
Arte/g1
O fato de grandes hospitais quererem abrir ainda mais cursos é algo negativo, dado esse “boom” de faculdades privadas? Ou, com a estrutura moderna, a tradição na área da saúde e a experiência prática, pode ser um alívio em um setor que sofre com a formação inadequada de médicos?
Segundo Donizetti Giamberardino, membro do Conselho Federal de Medicina (CFM), não é possível generalizar.
“O importante é que seja uma escola sustentável, de qualidade, e que forme bons médicos nas regiões corretas. Precisa haver um interesse social. Vemos hoje um mercado selvagem de empresas que buscam abrir cursos apenas como fonte de receita financeira. Um médico com formação ruim pode ser perigoso para a sociedade”, diz.
Fonte: G1 Read More