Ter funções na rotina da casa e da família ajuda a desenvolver senso de responsabilidade, além de impactar positivamente na autoestima e na autoconfiança das crianças. Veja dicas de tarefas domésticas para crianças por faixa etária
Quando a mineira Maurícia Gonçalves, de 37 anos, deu à luz Júlia, sua primogênita que hoje tem 8 anos, decidiu criar a filha para ter independência e autonomia.
O objetivo foi incorporado à rotina da família. Quando vestia a menina, por exemplo, Maurícia descrevia o que fazia. Quando arrumava a casa, explicava os processos e, quando cozinhava, dizia para a filha os cuidados necessários.
Eu fazia a mesma coisa na hora de guardar os brinquedos, na hora de levar a louça suja para a pia e de colocar a roupa para lavar. Era tudo uma grande brincadeira.
Com o passar do tempo, a menina passou a querer participar das atividades e a mãe a estimulou, sempre observando e tomando as devidas precauções para evitar acidentes.
“Quero que minha filha seja não uma mulher capaz, mas uma pessoa capaz, preparada para a vida e podendo enfrentar o que vier pela frente”, diz Maurícia.
Benefícios da criação com autonomia
Iniciativas como a de Maurícia são fundamentais para desenvolver na criança a sensação de capacidade, de responsabilidade e de autoconfiança, de acordo com psicólogas e psicopedagogas ouvidas pela reportagem.
👉 E essa preocupação deve vir desde a primeira infância (0 a 6 anos), etapa fundamental do desenvolvimento mental e emocional da criança, além da sua socialização.
Quando os pais demonstram que confiam na criança para fazer aquela determinada tarefa, ela desenvolve autoconfiança e vontade de fazer e sente prazer no que está fazendo. Ela sente que tem um papel dentro da estrutura familiar e que é importante.
Essas crianças também tendem a ter mais disposição e são mais criativas, de acordo com as especialistas. “Trabalhar a autonomia é trabalhar a autoestima”, defende Sabrina Pani, doutora em psicologia do desenvolvimento.
Como introduzir a independência na rotina
Incentivar a autonomia da criança é um processo e deve ser iniciado cedo, de acordo com a faixa etária.
E, apesar de os pequenos terem uma curiosidade que propicia esse tipo de aprendizado, são os pais, muitas vezes, quem mais têm dificuldade de colocá-la em prática, de acordo com a psicóloga Angela Carbonari.
Devido às demandas e compromissos da vida adulta, é normal que os pais calcem os sapatos e vistam as roupas nos filhos, que os levem no colo e carreguem a mochila com o material escolar, por exemplo, a fim de agilizar essas etapas. Mas isso mina a autonomia da criança.
Por isso, os pais precisam se policiar, ao mesmo tempo em que estimulam os filhos. Confira dicas abaixo:
Dê espaço: permita que a criança assuma e cumpra com pequenas responsabilidades. Se ela terminou de almoçar, deixe que leve o prato até a pia.
Ensine: diga que seu filho é capaz de fazer determinadas coisas e mostre a ele como fazê-las. Se forem sair de casa, mostre a ele como amarrar os cadarços e permita que ele tente fazer isso sozinho.
Explique: diga para a criança, de forma clara e simples, os benefícios das tarefas. Por exemplo, guardar os brinquedos é importante para impedir acidentes e garantir que não se percam.
Ajude: seja parceiro da criança na hora de fazer as tarefas. Se vai colocar a roupa na máquina para lavar, chame a criança para participar separando as roupas e dividam aquele momento.
Dê o exemplo: Seja o principal exemplo para seu filho, colocando em prática aquilo ensina para ele. Assim, ele vai se inspirar e terá mais um estímulo para tomar a frente em algumas tarefas.
Mas é preciso estar atento e saber qual tarefa é adequada para cada idade.
Role o texto abaixo e veja as sugestões de tarefas por faixa etária:
Ajuda nos afazeres
💰 Educação financeira
Quando: a partir dos 8 anos
As crianças também podem e devem aprender como administrar dinheiro desde jovens, mas em uma escala adequada.
Os pais que têm possibilidade financeira e interesse em trabalhar este aspecto com os filhos podem começar de maneira gradual.
Para Luciana Soares, o assunto pode ser introduzido a crianças de 8 anos, na primeira fase do ensino fundamental.
Ofereça um valor semanal, algo em torno dos 20 reais, e explique que ela pode gastar um pouco a cada dia ou gastar tudo de uma vez, mas que não terá mais dinheiro naquela semana.
A criança também pode aprender a poupar. “Se quiser ir ao cinema, por exemplo, dê a opção de ela economizar para pagar o ingresso ou comprar a pipoca. Limite um orçamento e tente estimular um controle financeiro, pois são aprendizados muito válidos”, completa.
O valor pode ser negociado e estipulado de acordo com a idade do filho e a realidade de cada família, mas a especialista alerta que não deve ser um valor muito alto.
“Mas também deve ser uma brincadeira, um exercício familiar atrativo para as crianças, e não um limitador para as experiências da idade”, diz Luciana.
👧👦 Ficar sozinho em casa
Quando: a partir dos 10 anos por períodos curtos, mas veja as recomendações abaixo!
Outra preocupação de pais e responsáveis é sobre a idade em que as crianças podem ficar sozinhos em casa. Neste ponto, Luciana Soares é cuidadosa.
Não existe um consenso e é preciso refletir. Afinal, o que mais está em jogo é a integridade física e segurança das crianças.
A especialista explica que tudo impacta nessa decisão: desde a localização e o espaço físico onde a criança vai ficar até o tempo dessa permanência sem supervisão.
“Depende também do motivo. Afinal, o pai ou a mãe não pode levar o filho quando sair? Não há quem possa ficar com a criança nesse tempo?”, questiona.
Se a resposta para as duas perguntas for “não”, ela indica atenção antes de deixar a criança sozinha em casa. A indicação é guardar objetos cortantes, perfurantes e de vidro, desligar o gás de cozinha e não deixar objetos de risco ao alcance da criança.
🚨 Mas atenção! a criança não deve ficar sozinha em casa antes dos 10 anos. E, dessa idade até os 12 anos, o conselho é que a permanência sem supervisão seja apenas por curtos períodos.

Fonte: G1 Read More