Primeira prova acontece neste domingo (3) para mais de 4,3 milhões de candidatos. Folha de rascunho da Redação do Enem.
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O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 é: “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.
Abaixo, confira exemplos de textos produzidos a partir da divulgação do tema da redação
Carolina Brum, professora de redação do Colégio e Curso AZ.
Sankofa é um símbolo africano, representado por um pássaro de pescoço longo voltado com a cabeça para trás, que ressalta a necessidade de voltar ao passado para aprender e, em seguida, construir um futuro. Esse e diversos outros símbolos de mesma origem, apesar de sua extrema importância e conexão com a história nacional, não têm o devido prestígio no Brasil. Nesse sentido, é preciso analisar fatores governamentais e educacionais que contribuam para a desvalorização da herança africana na sociedade brasileira.
Em primeiro plano, percebe-se que há um viés político que colabora com o descaso com o legado africano no Brasil. Segundo a filósofa Djamila Ribeiro, “para pensar soluções para uma realidade, devemos tirá-la da invisibilidade”. No entanto, ao analisar o cenário de indiferença do governo brasileiro com o patrimônio africano, nota-se que o pensamento da autora não se concretiza na prática, já que há uma escassez de políticas públicas que enalteçam a herança, como museus e eventos que tratem sobre o aprendizado de assuntos referentes à África. Isso ocorre porque os governantes tendem a privilegiar assuntos de maior popularidade e visibilidade para sua manutenção política, o que afasta o país, cada dia mais, da possibilidade de concretização do princípio de Djamila.
Além disso, há um viés educacional responsável pela desvalorização desse legado. Em 2003, tornou-se obrigatório o ensino de cultura africana em todas as escolas do Brasil em caráter transversal. No entanto, mesmo com a obrigatoriedade, as instituições de ensino não respeitam a legislação. Esse descumprimento das normas oficiais ocorre, dentre outros fatores, devido à priorização de pautas curriculares que sejam correlatas aos exames e vestibulares. Consequentemente, os alunos têm acesso a conhecimentos básicos de origem africana nas aulas de história e geografia, tornando sua análise social eurocêntrica.
Torna-se evidente, portanto, que o problema é grave e exige medidas governamentais e educacionais. Para isso, o Ministério da Igualdade Racial, responsável pela construção de um ambiente étnico democrático, deve aumentar os investimentos em instituições responsáveis pela manutenção do legado africano por meio da consultoria de profissionais especializados em relações étnico-raciais a fim de tornar o Brasil um país responsável com a cultura ancestral. Ademais, as escolas devem colocar em prática a lei de ensino de cultura africana. Somente assim, o país poderá executar com sabedoria o ensinamento sankofa.
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Denise Leal Franco, autora de redação do Fibonacci Sistema de Ensino
“Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados por sua personalidade, não pela cor de sua pele.” Esse pensamento de Martin Luther King, ativista na luta pelos diretos civis dos negros, ainda não pôde ser concretizado em várias partes do mundo, inclusive, no Brasil, uma vez que ainda se enfrentam desafios, em solo nacional, para a valorização da herança africana. Nesse sentido, devem -se considerar a negligência estatal e o preconceito como responsáveis por essa triste realidade.
Diante de tal cenário, é válido destacar que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º, assegura como direitos sociais a educação e a cultura. No entanto, o que se nota na contemporaneidade é a inoperância dessas garantias constitucionais, haja a vista a mínima expressividade do Estado no que tange a ensinar a história africana nas escolas brasileiras, uma vez que pouco se conhece sobre os costumes e sobre a cultura do povo preto e como isso contribuiu para a formação da identidade nacional. Essa situação decorre do fato de que a grade curricular da educação básica não contempla a disciplina História da África, mesmo que exista uma lei (10,639/2006) que determina a inclusão, visto que as bases de ensino ainda focam na memorização de regras e fórmulas. Com isso, inúmeros estudantes passam pela escola sem saberem que o samba, ritmo musical que projetou o país no cenário internacional, é de herança afro. Dessa forma, é imprescindível cumprir os princípios assegurados pela Carta Magna, a fim de garantir a valorização da herança africana no país.
Além disso, é mister salientar o pensamento do escritor francês Voltaire, o qual afirma que “o preconceito é opinião sem conhecimento.” Nesse viés, nota-se que a rejeição à herança africana no Brasil é baseada apenas em uma opinião, quando esta ocorre por ausência de experiências. Por outro lado, uma vez tendo experienciado histórias do curupira, comidas, como a cocada, ou até mesmo participado de uma roda de capoeira, anula-se a falta de conhecimento em relação ao que os brasileiros herdaram da África. Com isso, nota-se que a intolerância para com os aspectos culturais de um dos povos responsáveis pelo que país é hoje é fruto da desvalorização dos pretos, o que precisa ser combatido.
Portanto, medidas são necessárias para superar os desafios para a valorização da herança africana. Para isso, o Ministério da Educação, órgão responsável pelas políticas educacionais, deve alterar a grade curricular, por meio da inserção da disciplina História da África, com carga horária adequada, a fim de que se possa ensinar aos estudantes a interferência africana na culinária, na música e no folclore brasileiro, para que, desse modo, o reconhecimento dos costumes seja capaz de romper com o preconceito. Assim, o Brasil se aproximará do desejo de Luther King.
Confira o tema da redação do Enem em outros anos
Enem 2023 – “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”
Enem 2022 – “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”
Enem 2021 – “Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”
Enem 2020 – “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”, na versão impressa; e “O desafio de diminuir a desigualdade entre regiões no Brasil”, na digital.
Enem 2019 – “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”
Enem 2018 – “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”
Enem 2017 – “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”
Enem 2016 – “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”
Enem 2015 – “A Persistência da Violência contra a Mulher na Sociedade Brasileira”
Enem 2014 – “Publicidade infantil em questão no Brasil”
Fonte: G1 Read More