Pela 1ª vez, uma das principais avaliações internacionais de educação incluiu questões que medem a criatividade de estudantes de 15 anos na resolução de problemas sociais e científicos. Entre os 56 países participantes (membros da OCDE e parceiros), Brasil está na 44ª posição. Veja exemplos de perguntas e descubra quais as respostas consideradas ‘criativas’. Como definir se um aluno de 15 anos é criativo? Esse foi o desafio do Pisa (sigla em inglês para “Programa Internacional de Avaliação de Estudantes”), prova internacional de educação que, pela primeira vez, foi além dos conteúdos de matemática, ciências e leitura: incluiu questões que determinam se jovens de 15 anos são capazes de solucionar problemas com originalidade e de usar a imaginação para criar histórias.
Nesta reportagem, mais abaixo, o g1 mostra exemplos de perguntas que estavam na avaliação inédita — você verá que são bem diferentes de desafios matemáticos ou de qualquer teste que as escolas aplicam no dia a dia. E aí, suas respostas seriam consideradas corretas?
Os resultados do “Pisa da Criatividade” foram divulgados nesta terça-feira (18) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE):
✏️Mais da metade (54,3%) dos alunos brasileiros de 15 anos apresentou um baixo nível de criatividade. Isso significa que eles:
conseguiram apenas fazer desenhos isolados e simples, dentro de assuntos ligados ao cotidiano;
apresentaram ideias óbvias e tiveram dificuldade de propor mais de uma solução para um problema.
⬇️Entre os 56 países participantes (membros da OCDE e parceiros), o Brasil ficou no fim da lista, na 44ª posição, atrás de outras nações latino-americanas, como Uruguai, Colômbia e Peru. Veja mais dados aqui.
Exemplos de questões (e o que um aluno criativo responderia)
1. Criar títulos para uma imagem
A questão abaixo, uma das 32 que estavam na prova, pedia que o aluno criasse três títulos diferentes para a imagem de um livro enorme em um jardim.
Questão pede que o aluno crie três títulos diferentes para a imagem de um livro enorme, com uma árvore e um banco posicionados entre as páginas
Reprodução/OCDE
Um aluno de nível 1 ou 2, por exemplo, apresentaria ideias mais simples e literais de título, muito parecidas entre si, como: “O livro grande”, “O livro gigante” e “Um livro gigante no campo”.
Já as respostas criativas, de alunos dos níveis mais avançados, trariam adjetivos menos óbvios e mais variados, como “A árvore solitária”, “A história perfeita” e “A trilha escrita”.
2. Inventar um diálogo entre o Sol e a Terra
Nesta outra pergunta, o estudante precisaria preencher os balões de uma história em quadrinhos protagonizada pelo Sol e pela Terra. A recomendação era gastar no máximo 5 minutos na tarefa.
Questão do Pisa propõe que aluno monte diálogo entre Sol e Terra
Reprodução/OCDE
Os temas considerados pelo Pisa como mais óbvios e menos criativos abordariam questões de calor, temperatura, estações do ano, tempo e mudanças climáticas. Já as originais incluiriam um aprofundamento maior, trazendo reflexões sobre sustentabilidade, diferenças na formação dos astros, conversas sobre sentimentos ou relação com outros corpos celestes.
Exemplo de diálogo que receberia metade da pontuação, segundo a OCDE:
— Como você está se sentindo?
— Estou quente, e isso só está piorando.
— Eu também estou ficando mais quente.
— Isso não é bom.
— Não, não é.
— Boa sorte.
Exemplo de diálogo que alcançaria a pontuação máxima, também de acordo com o órgão:
— Terra, você se casaria comigo?
— Quê??
— Nós estamos juntos desde sempre.
— Mas isso é só por causa da gravidade.
— Mas eu te amo.
— Desculpe, cara. É só a gravidade.
3. Tornar uma biblioteca acessível para pessoas com deficiência
Na pergunta abaixo, o participante tinha de descrever três diferentes e criativas ideias de como tornar uma biblioteca acessível para cadeirantes. Na foto, aparece uma escada em caracol levando ao segundo pavimento.
Desafio do Pisa da Criatividade faz aluno pensar em alternativas de acessibilidade
Reprodução/OCDE
O essencial aqui, para alcançar a pontuação máxima, era oferecer soluções bem variadas, que não se parecessem entre si.
Resposta considerada sem criatividade pela OCDE:
Pagar funcionários para ajudar na biblioteca.
Contratar mais bibliotecários.
Contratar bibliotecários auxiliares.
Resposta considerada parcialmente criativa pela OCDE (porque dois itens se parecem):
Construir um elevador para cadeirantes.
Montar um pequeno espaço que possa subir e descer com pessoas.
Comprar uma máquina em que seja possível digitar o nome do livro, para que ela o transporte para o térreo.
Resposta considerada muito criativa:
Montar um site com serviço de delivery de livros.
Contratar funcionários que possam descer os livros desejados pelos cadeirantes.
Pedir para voluntários ajudarem o cadeirante a chegar aos livros.
4. Pensar em programas de incentivo a caronas
Neste caso, o estudante tinha de pensar em soluções criativas para melhorar um programa de incentivo a caronas. O enunciado mencionava que quem “compartilhasse carro” já usufruiria de descontos para combustível e pedágios.
Desafio do Pisa de Criatividade pedia que o aluno pensasse em alternativas para estimular caronas
Reprodução/OCDE
Para conseguir a pontuação máxima, o aluno deveria oferecer qualquer outra alternativa original que fosse diferente da modalidade de incentivos financeiros (como desconto para a compra de carros).
5. Desenhar um pôster de divulgação para a feira de ciências
Neste desafio, cabia ao estudante usar ferramentas digitais de desenho para montar um pôster criativo de divulgação da feira de ciências “Vida no Espaço Profundo”.
Pergunta do Pisa de Criatividade pedia que o aluno desenhasse pôster para feira de ciências
Reprodução/OCDE
As abordagens consideradas mais comuns e pouco criativas envolveriam o desenho do planeta Terra e de elementos de exploração espacial, como astronautas e satélites, apresentados de maneira simples. Receberiam metade da pontuação.
Se o aluno usasse algum item que não tivesse relação com “espaço profundo”, não receberia nenhum ponto (como apenas fazer círculos entre o Sol e o planeta).
Os mais originais incluiriam ilustrações de figuras animadas além de astronautas (como ETs) e/ou menções a modelos científicos relacionados à vida (moléculas de carbono, por exemplo).
6. Elaborar uma sinopse de filme com humano e robô
Na questão abaixo, os alunos tinham de escrever duas diferentes ideias de filme sobre um humano (Leo) interagindo com um robô (Rob). Não era necessário escrever o roteiro inteiro, só a sinopse.
Alunos de 15 anos tinham de pensar em diálogo entre humano e robô
Reprodução/OCDE
Para alcançar a pontuação máxima, o mais importante era criar dois contextos totalmente diferentes entre si. Por exemplo: uma história com a perspectiva da inteligência artificial sobre a amizade com humanos e outra acerca da transformação de Leo em robô.
🎭Quais países fazem parte do top 10 de criatividade?
Finlândia (36 pontos)
Dinamarca (35 pontos)
Letônia (35 pontos)
Bélgica (35 pontos)
Singapura (41 pontos) – com destaque para solução de problemas sociais
Coreia (38 pontos) – com destaque para soluções de problemas científicos
Canadá (38 pontos)
Austrália (37 pontos)
Nova Zelândia (36 pontos)
Estônia (36 pontos)
Média geral da OCDE: 33 pontos
➡️Observações da OCDE:
Em todos os países participantes, os alunos com maior status socioeconômico tiveram melhor desempenho em pensamento criativo do que os menos favorecidos. Em média, a diferença foi de 9,5 pontos.
As meninas tenderam a ser muito mais criativas que os meninos no Pisa — 31% delas e 23% deles conseguiram atingir o nível 5 de proficiência (considerado alto).
Alunos que participam de atividades de artes, teatro, escrita criativa e programação ao menos uma vez por semana costumam ter desempenho melhor do que os demais.
O incentivo dos professores e a valorização da criatividade pelas escolas também aparecem como elementos importantes para os alunos, segundo o questionário aplicado pelo Pisa.
Brasil ocupa últimas posições em ranking do Pisa 2022
Fonte: G1 Read More